sábado, 29 de outubro de 2022

Quem venceu o debate entre Lula e Bolsonaro na Globo? Colunistas opinam


 Um debate marcado pela falta do diálogo. Para os colunistas do UOL, essa foi a tônica do último encontro entre os candidatos ao Planalto antes do segundo turno, realizado pela TV Globo na noite de sexta (28).

Por pouco mais de duas horas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) promoveram um debate com poucas propostas, com muitas referências ao passado e calcado em ataques..

Com a tensão presente na interação entre os candidatos, que qualificavam o adversário com termos que iam de mentiroso a descompensado, nem o mediador do debate, o jornalista Willian Bonner, conseguiu manter a paciência.

Em meio ao clima bélico, os colunistas do UOL apontam que Lula pode ser tido como vencedor do debate.

Para a votação de domingo (30), as pesquisas mais recentes indicam a vitória de Lula. De acordo com o Datafolha de 27 de outubro, o petista tem 49% das intenções de voto contra 44% de Bolsonaro.

Confira a análise dos colunistas do UOL sobre quem venceu o debate:

Acho que o resultado do debate foi de empate, com gosto de vitória ao ex-presidente Lula, que jogava para não perder votos. Bolsonaro e Lula pouco se preocuparam com os eleitores indecisos e podem ter apenas agradado suas 'bolhas'. Com a maior parte do tempo dedicada a ataques mútuos, faltou debater propostas. E não houve nenhum grande fato novo, que poderia alterar o cenário polarizado, no qual o petista teve vantagem no primeiro turno e está melhor nas pesquisas para a eleição de domingo.

Foi um debate de surdos, com críticas mútuas e sem qualquer chance de diálogo. Um candidato perguntava e outro respondia sobre outro assunto. Bolsonaro explorou novamente os processos aos quais Lula respondeu na Justiça. Lula obteve vitória quando Bonner interveio explicando que o STF anulou condenações ao petista.

Fora isso, foi um debate tenso do início ao fim. Os candidatos se mostraram raivosos, faltou simpatia. No fim, a impressão que dá é que o eleitor achou que seu próprio candidato ganhou o debate. Não parece provável que os candidatos tenham conseguido capitalizar mais votos para si. Ou seja, empatou.

Nessa perspectiva, Lula pode ter sido vitorioso. Como está na frente das pesquisas de intenção de votos, só de não perder a discussão, já saiu no Lucro.

Na prática, Lula venceu. Se não teve uma grande performance, tampouco cometeu um grande erro e, portanto, entrou favorito no debate e favorito saiu. Mas nem ele nem Bolsonaro conseguiram falar para os indecisos, público que era a razão de ser de um debate realizado a dois dias de uma eleição que promete ser uma das mais apertadas da história. Lula se deteve no passado e Bolsonaro, salvo um bom momento no terceiro bloco, não falou do futuro. Nesse sentido, os dois perderam.

Grande perdedor do debate entre Lula e Bolsonaro foi o eleitorado indeciso

Lula e Bolsonaro precisavam conquistar os votos dos brasileiros que ainda estão indecisos. Coisa de 7% do eleitorado, segundo o Datafolha. Os que desperdiçaram um naco da noite de sexta-feira para assistir ao debate promovido pela TV Globo encontraram mais razões para anular o voto do que para optar por um dos contendores. Em certos momentos, pareciam dois aspirantes ao cargo de vereador trocando insultos em cima do caixote. A palavra mais mencionada foi "mentiroso".

À frente no placar do primeiro turno e nas pesquisas, Lula precisava de um empate. Acabou prevalecendo. Menos pela exuberância do desempenho do que pela capacidade de resistir a um rival que fez opção preferencial pela canelada. A afirmação mais relevante de Bolsonaro foi feita fora do debate.

declarou, sobre a disposição de aceitar o veredicto das urnas. Como o debate não virou a conjuntura do avesso, terá a oportunidade de mostrar que fala sério em menos de 48 horas.

O debate foi uma troca mútua de ataques e xingamentos. Tanto um quanto outro se referiu ao adversário como mentiroso. Esse tipo de acusação, de maneira geral, não favorece o agressor, a não ser que seja acompanhado de provas. Nesse aspecto, Bolsonaro tentou se apoiar em fatos.

Houve situações inusitadas, como, por exemplo, o pedido de resposta de Bonner por ter sido citado. Por várias vezes, o presidente questionou o adversário sobre as mentiras em suas propagandas, nas quais dizia que o chefe do Executivo acabaria com muitos direitos do trabalhador. Lula tentou fugir, até que precisou dar alguma explicação. E não foi feliz. Disse que não era ele quem fazia as peças publicitárias e que nem sabia o que era produzido.

Por sua vez, Bolsonaro não respondeu de forma consistente o questionamento sobre o investimento em saúde. Também nesse caso, Lula teve de insistir muito para arrancar alguma resposta.

Lula nunca foi muito bem nos debates. Hoje, conseguiu, pelo menos, sobreviver. Consentiu, entretanto, que Bolsonaro falasse sem objeções sobre seus feitos. Da mesma forma, permitiu que o presidente deixasse claro que houve corrupção e desemprego no governo petista. Pode parecer pouco, mas nem toda a população mais jovem, por exemplo, vivenciou esses fatos.

Se fosse para dar nota para cada um, daria 7,5 para Bolsonaro e 5 para Lula. Essa diferença poderá ter alguma influência no voto de alguns eleitores, já que milhões estavam diante da TV

  • Chico Alves:
  • Praticamente todos os debates eleitorais importantes terminam com os críticos reclamando da falta de propostas. A verdade é que, há muito tempo, esse tipo de confronto se resume a uma disputa de pegadinhas e performances faciais entre os candidatos. O debate final entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, no entanto, talvez tenha sido o recordista na falta de ideias para a melhoria do Brasil.

    Entre as sucessivas acusações que um fez ao outro de mentir, o que se viu foi os presidenciáveis falarem mais de passado que de futuro —o que não ajuda muito o eleitor a se decidir. Na postura agressiva de Bolsonaro e nas repostas duras de Lula, poderíamos afirmar que houve empate. Mas as tentativas do petista de tentar algumas vezes puxar a conversa para um nível mais alto e o pedido de desculpas que fez ao telespectador pelas baixarias talvez rendam a ele uma menção honrosa. Ou seja: se depender do debate, os indecisos terão poucos motivos para mudar de posição.

    O debate na Globo entre Lula e Bolsonaro deixou evidente o ânimo de Bolsonaro frente aos últimos dias da campanha. O atual presidente da República estava visivelmente nervoso a ponto de tremer ao falar. Ao final, ele chegou a pedir um mandato de deputado federal em um terrível ato falho.

    Bolsonaro repetiu todo o seu repertório e encontrou um Lula mais preparado e na sua melhor performance em todos os debates. Lula imprimiu uma tônica de estadista. Martelou o fato de o Brasil ter se isolado do mundo. Citou os escândalos familiares de corrupção da família Bolsonaro e, no geral, enfrentou melhor os ataques de Bolsonaro. Acredito que o débito ainda ficou circunscrito aos eleitores dos dois. No entanto, quem falou para fora da bolha foi Lula e pode ter alcançado alguns indecisos.

    • Mariana Kotscho:
    • Bolsonaro passou o debate sendo Bolsonaro. Agressivo, descompensado, disparando fake news —como se falar mentiras fosse liberdade de expressão, a ponto de o próprio William Bonner precisar de um direito de resposta.

      Aliás, mentira foi uma das palavras mais usadas no debate. Enquanto um chamava o outro de mentiroso, perdia-se um tempo precioso para tratar de temas realmente relevantes. Desde o início, Lula esteve mais equilibrado e mais bem preparado.

      Mas insistiram em acusações mútuas, em temas do passado e nos mesmos assuntos de outros debates. Quem estava esperando um debate de propostas continuou sem respostas. Lula se saiu melhor porque, em alguns momentos, conseguiu falar de propostas e trouxe os temas principais para o debate.

      Lula venceu o debate porque está acostumado com a dinâmica da política de confronto de ideias e argumentação. Bolsonaro desconhece essas práticas democráticas e, portanto, repete as mesmas acusações, sem compromisso em discutir ideias e projetos para o Brasil.


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