Com rolos na Justiça, o fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus tem templos penhorados e problemas em proporções bíblicas.
Valdemiro Santiago de Oliveira diz que teve a ideia de iniciar a construção daquilo que se tornaria um impressionante império neopentecostal depois de ter sobrevivido por milagre a um acidente. O apóstolo, conhecido por envergar chapéus de vaqueiro nos cultos, conta que recebeu o “chamado de Jesus Cristo” em meio a um naufrágio em Moçambique, na África, em 1996. Ele estava ali a serviço da Igreja Universal do Reino de Deus e, atirado ao mar, relata ter nadado por mais de oito horas até encontrar abrigo em uma ilha, enfrentando sede, fome e até cardumes de tubarões-brancos.
No retorno ao Brasil, ficou ainda dois anos a serviço da Universal, até se desentender com o bispo Edir Macedo. Na sequência, abriu o primeiro endereço de sua própria igreja, a Mundial do Poder de Deus, no interior de São Paulo. A multiplicação do rebanho ocorreu de forma rápida. Em 2006, já pregava para multidões na sede transferida para a capital do estado, um prédio de 18 000 metros quadrados. Atualmente, é dono de 6 000 templos espalhados pelo Brasil e por outros 21 países (incluindo Estados Unidos, Portugal e Inglaterra), além de uma TV e de uma rádio.
processo de derrocada da Mundial e de seu fundador ocorre na mesma velocidade em que se deu o crescimento. Pelo critério de quantidade de templos, a igreja de Valdemiro está entre as dez maiores instituições evangélicas do país. A Mundial, no entanto, enfrenta uma grave crise desde 2019. Nos processos, os advogados do apóstolo colocam a culpa da crise na pandemia, alegando que houve redução no número de doações durante o período em que os templos ficaram fechados. A igreja, porém, também recebe doações de fiéis por meio do site e das redes sociais. Já os funcionários da TV Mundial atribuem os sucessivos problemas à má gestão da filha de Valdemiro, Raquel Santiago, à frente da instituição.
Nem as conexões políticas parecem ter ajudado a salvar esse patrimônio. Assim como outros líderes evangélicos, o apóstolo cerrou fileiras em torno de Jair Bolsonaro e fez campanha para o ex-presidente. Em outubro, entre o primeiro e o segundo turno, participou de um comício ao lado do então candidato à reeleição e do governador de Minas Gerais, Romeu Zema. Passada a eleição, Valdemiro segue fiel ao bolsonarismo. Durante uma pregação ao vivo na TV Mundial, no último dia 23, disse que a greve de funcionários na emissora “é coisa de quem não gosta de trabalhar”, assim como “aquele que cortou o dedo só pra se aposentar”, em referência ao presidente Lula. No mesmo programa, fez um pedido aos fiéis: que se unissem para doar 10 milhões de reais. Pelo jeito, novamente, Valdemiro espera por um milagre — desta vez, para se salvar de um naufrágio financeiro.
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